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100 Anos da Moda
100 Anos da Moda

Ano a ano, livro mostra um século de moda no Brasil e no mundo

O professor e historiador de moda João Braga lançou neste mês o livro “Um Século de Moda” (R$ 30), com 120 páginas, prefácio de Gloria Kalil e patrocínio do site de e-commerce Lets. A publicação, com 120 páginas, traz o que o autor, que assina outros sete livros sobre moda, pinçou de mais relevante entre os anos 1901 a 2000. “Quis tirar a moda do ambiente da autorreferência e criar uma interface com outros fatores, como arte, cinema, história”, disse ao Terra.

O projeto, já pensado há alguns anos por João Braga, tomou forma durante as festas de fim do ano passado. A Lets gostou do projeto e fecharam acordo em janeiro. “Escrevi em um mês e meio”, contou João, também responsável pelo projeto e ilustração da capa. Cada página do livro é um ano, onde o professor coloca, de acordo com sua perspectiva, o que mais relevante aconteceu na moda. E aí entram desde a influência da art noveau (1901) às tribos urbanas e o pluralismo da moda (2000).

No meio disso tudo, descobre-se, por exemplo, que o permanente de cabelos foi criado em 1906 e por que o termo pin-up surgiu com o fim da Segunda Guerra, em 1945. “Inseri também fatos sobre a moda brasileira, como a abertura das Casas Pernambucanas, em 1908, a importância de nomes como Zuzu Angel, a primeira a colocar a moda brasileira no contexto mundial (1970), com lançamento de coleção em Nova York. 

Santos Dumont (que pediu a Cartier um relógio de pulso para seus voos, em 1904), Fenit, Dior, Hippies, Morumbi Fashion (semana de moda brasileira lançada em 1996 por Paulo Borges, que só em 2001 passou-se a chamar São Paulo Fashion Week), Chanel, Yves Saint Laurent, a novela Dancin’Days, a era Eduardiana, as guerras, a patente do sutiã também passeiam nas páginas, cujas tipologias dos títulos mudam de acordo com cada década.

Confira a linha de tempo da moda durante o século 20, proposta por João Braga.
 
            
1902

Estilo eduardiano

Nesse ano, toma posse na Inglaterra o rei Eduardo, filho da rainha Vitória (foto). Para a posse, em 9 de agosto, mandou confeccionar pela casa Cartier 27 tiaras para enfeitar a cabeça de algumas mulheres da monarquia. Fez com que Cartier abrisse uma filial de sua joalheria em seu país. O estilo eduardiano marcou uma identidade na moda
masculina.
 
                
1903

Oficinas vienenses

João Braga ressalta nesse ano as Oficinas Vienenses, que produziam artesanalmente e tinham como objetivo unir a utilidade dos objetos produzidos a uma significativa qualidade estética, criando uma harmonia. O padrão estético era o da art noveau levado ao refinamento extremo, como pode ser visto nos pingentes assinados por artistas como Josef Hoffmann, Koloman Moser, Oscar Dietrich e Carl Witzman (da esquerda para a direita).
 
 
1904

Relógio de pulso

Nesse ano, o aviador brasileiro Albert Santos Dumont pediu à casa Cartier, fundada em 1847 por Louis François Cartier, um relógio de pulso que o possibilitasse ver as horas durante os voos. A casa já propunha a peça desde 1853, mas nesse ano, com a ajuda do relojoeiro Edmond Jaeger, foi criada e batizada de Santos.
 
 
1910

Coco Chanel

João Braga coloca esse ano como início da carreira de Coco Chanel. “Peguei muitas referências de fontes secundárias, mas decidi colocar essa a data, quando ela estabeleceu-se em Paris.” O ano marca o começo de sua atuação como modista, criando e vendendo chapéus.
 
 
1920

Ray-Ban

Os famosos óculos tipo aviador foram criados nesse ano a pedido do tenente Mac Cready, que cruzou o Atlântico num balão sem proteção para os olhos. O pedido foi feito à empresa Bausch & Lomb. A armação de metal, leve e arredondada, e as lentes verdes foram mais do que bem-recebidas. Usados por oficiais da aeronáutica, foram rebatizados de Ray Ban (banidor de raios) e registrados em 1937.
 
 
1930

Short

Peça de roupa considerada não adequada começa a se popularizar nos anos 1920 devido ao hábito do banho de mar como lazer. O short também foi comum à prática de exercícios, principalmente na Inglaterra, uma vez que a Liga Feminina de Saúde e Beleza, criada em 1930, oferecia aulas públicas de ginástica favorecendo o uso do short, que passou a ser mais aceito. Seja na ginástica, seja no lazer dos balneários nos finais de semana, a peça passa a ser moda feminina a partir de então, perdurando a voga por praticamente toda a década. No mesmo ano de 1930, foi criado, nos Estados Unidos, um fio de borracha elástica que começou a ser aplicado em tecidos próprios para as roupas íntimas femininas: o lastex, que com o passar dos anos ficou mais conhecido como látex.
 
 
1940

Alta-costura em Berlim?

O Exército alemão ocupou parte da França, especialmente Paris, em junho de 1940, trazendo grandes problemas e interferências à moda local. Uma das intenções de Hitler era transformar a cidade de Berlim em grande capital cultural da Europa e, por extensão, do mundo. Para isso, ele quis se apropriar também da indústria da moda francesa e, em especial, transferir a sede da Câmara que regia a alta-costura de Paris para Berlim. O costureiro francês Lucien Lelong (foto de uma criação dele da década de 20), presidente da Câmara nesses anos de guerra, conseguiu manter a câmara em Paris e foi a partir desse momento que houve a preocupação de registrar e proteger a alta-costura como um patrimônio cultural francês, estabelecendo regras para o setor. Assim, a alta-costura só existe em Paris, uma vez que é uma marca registrada.
 
 
1953

Jaqueta perfecto

O filme “O Selvagem”, cujo título original é “The Wild One”, dirigido por László Benedek e estrelado por Marlon Brando, foi lançado no ano de 1953. Por meio dele, o ator não só difundiu na moda masculina um tipo de blusão como também o imortalizou: era a jaqueta perfecto.
 
 
1960

Cápsulas de Pucci

Emilio Pucci lançou peças inteiriças em jérsei de seda que as denominou de “cápsulas”. Era uma espécie de “collant” de corpo inteiro que também recebeu o nome de “léotard”. A peça ainda aparece nas coleções da grife, como mostra a cantora Rita Ora em show em 2012.
 
 
1970

Zuzu Angel em NY

Zuzu Angel, já famosa no Brasil, foi aceita como participante do “Fashion Group” (Grupo de Moda, em inglês) de Nova York. Lá abriu escritório e, em 1970, lançou uma coleção com roupas inspiradas nos trajes típicos das baianas, em Lampião e Maria Bonita e também no trabalho das rendeiras dos estados do Nordeste brasileiro.
 
 
1983

Karl Lagerfeld e Daslu

O alemão Karl Lagerfeld assumiu a Maison Chanel, onde está até hoje, em 1983. Precoce, aos 16 anos, em 1954, ganhou o “Melhor Manteou”, da Secretaria Internacional de Lã. Trabalhou em várias marcas e em 1984 abriu também a sua própria. Também é diretor de criação da Fendi. No mesmo ano, Eliana Tranchesi assumiu a butique de sua mãe Luci Piva de Albuquerque, que abrira em 1958, com sua amiga Lourdes, daí o nome Daslu. Eliana criou uma aura de requinte à loja
 
 
1990

Collor e grifes internacionais

No processo de redemocratização do Brasil, Fernando Collor de Mello foi eleito presidente em 1989 e, logo depois de empossado em 1990, abriu o mercado do país às importações. Na área da moda chegaram primeiramente os tecidos e, posteriormente, as peças confeccionadas populares e as dos grandes nomes da moda internacional. A indústria têxtil brasileira não estava preparada para esta realidade de competição tanto em qualidade quanto em preço. A solução dos estilistas brasileiros foi então buscar inspiração nas referências da cultura nacional como forma de valor agregado e consequente valor reconhecido.
 
 
2000
Mistura
A moda do fim do século 20 foi tão diversificada que não houve um senso comum para adjetivá-la. Contou com mistura de identidades, conceitos, tribos, comportamentos, propostas e tendências. Mesmo havendo outros centros lançadores e divulgadores de moda, Paris continuou (e continua) sendo o centro que legitima toda a moda internacional.